terça-feira, 19 de dezembro de 2023

 

O PRIMEIRO PLANO E SUAS IMPLICAÇÕES ESTÉTICAS EM NA TERRA DO SOL, 2005, DE LULA OLIVEIRA

 

 

1.      Cinema e Filosofia: dois universos em diálogo

O filme Na Terra do Sol, 2005, dirigido pelo cineasta baiano Lula Oliveira, um canto agônico (SETARO. s/d) é uma releitura de um episódio da conhecida Guerra de Canudos – 1897 a partir do texto de Os Sertões, 1902, do escritor carioca Euclides da Cunha. Trata-se de um curta metragem disponível em dois canais na plataforma de vídeos You Tube, Lula Oliveira e Denisson Padilha.

A diegese fílmica trata de um episódio da guerra, denominada pelo escritor como Últimos dias, no trecho em que narra a resistência de 04(quatro) últimos defensores da cidade ante a ofensiva do Exército Brasileiro, que exterminara toda a população que resistira. No entanto o diretor do filme traduziu esse trecho do livro e da luta, revestindo-o de objetividade e realismo, sem ser fiel à narrativa clássica, mas apoiando-se em um estética visual que explora a expressão fisionômica dos atores a fim de que as imagens traduzissem conceitos universais.

Sobre a objetividade e a subjetividade do filme neo-realista, beleza é assim se manifesta, a citação é longa, mas necessária,

Quanto à distinção entre os subjetivo e o objetivo, ela também tende a perder importância, a medida que a situação óptica ou a descrição visual substituem a ação motora. Pois acabamos caindo no princípio de indeterminabilidade, ou indecernibilidade: não se sabe mais o que é imaginário ou real, físico ou mental na situação, não que sejam confundidas, mas porque não é preciso saber, e nem mesmo alugar para a pergunta. É como se o real eu imaginário corressem um atrás do outro, se refletisse um no outro, em torno de um ponto de intersenabilidade. (DELEUZE, 2005. p.16)

Nosso interlocutor traz uma afirmativa elucidativa que nós poderemos transferir para o filme na Terra do Sol, uma vez que sendo oriundo de uma dupla visão, quais sejam, a de um jornalista que foi designado para cobrir um evento um conflito bélico, que chegou muito tempo depois e foi embora um pouco antes do final desta guerra, em seguida transformou em livro e é a partir desta segunda visão que temos o filme Na Terra do Sol. A duplicidade de quem vê o filme entre a objetividade e a subjetividade que a película promove: onde está a objetividade? Na informação inicial de que o filme se baseia em um livro que trouxe um evento histórico. E a subjetividade exatamente nesta consciência que o indivíduo tem, isto é, no seu conhecimento a partir confronto entre este saber e o momento da exibição do filme que ele ou ela está sendo submetida.

Outro momento, a seguir, que nos provoca a reflexão sobre o filme na Terra do Sol em face de sua riqueza visual e sonora beleza assim nos aponta

"Em suma, as situações óticas e sonoras puras podem ter dois pólos, objetivo e subjetivo, real e imaginário, físico e mental. Mas elas dão lugar a opsignos e sonsignos, que estão sempre fazendo com que os polos se comuniquem, e num sentido ou no outro asseguram as passagens e as conversões, tendendo para um ponto de indiscernibilidade (e não de confusão). (DELEUZE, 2005. p. 18)

1.      A poética fílmica em Na Terra do Sol

A câmera para além do registro visual,

Cumpre o pressentimento de Hitchcock: uma consciência- câmera que não se definiria mais pelos movimentos que é capaz de seguir ou realizar, mas pelas relações mentais nas quais é capaz de entrar. E ela se torna questionante, respondente, objetante, provocante, teorematizante, hipotetizante, experimentante, conforme a lista aberta das conjunções lógicas ("ou", "portanto", "se", "pois", "com efeito", "embora"...), ou conforme as funções de pensamento de um cinema-verdade que, como diz Rouch, na verdade significa verdade do cinema." (DELEUZE, 2005.p. 34)

 

Em Na Terra do Sol nós temos, do início ao fim da diegese, o foco, o plano principal, no rosto dos personagens, portanto, em primeiro plano. É a partir deles que a diegese acontece com as demonstrações de sofrimento, dor, sede, angústia, desespero, mas também coragem, determinação, enfim é um momento de encerramento de um conflito e eles, os personagens, estão na iminência da autodestruição. Seus rostos que nos sensibilizam, nos arrebatam, nos provocam, nos desestabilizam enfim, para usar uma expressão cara os nossos tempos, nos tira da zona de conforto. Sobre afecção/primeiro plano/rosto e imagem-afecção é o primeiro plano e o primeiro plano é o rosto e Deleuze assim conceitua

É este conjunto de uma unidade refletora imóvel e de movimentos intensos expressivos que constituem o afeto. Mas não é a mesma coisa que um Rosto em pessoa? o rosto é esta placa nervosa porta-órgãos que sacrificou o essencial e sua mobilidade global e que recolhe ou exprime ao ar livre todo tipo de pequenos movimentos locais que o resto do corpo mantém comumente soterrados. (DELEUZE, 1983. p. NC)

Entretanto em outro momento ele mesmo vai afirmar que o rosto, em primeiro plano, não isola o corpo da diegese, torna-se a síntese de todas emoções, afecções

Tal espaço conserva o poder de refletir a luz, mas adquire também um outro poder, que é o de refratá-la, desviando os raios que o atravessam. O rosto que se posta nesse espaço, reflete, portanto, uma parte da luz, mas refrata uma outra parte. De reflexivo, torna-se intensivo. (DELEUZE, 1983. p. NC)

O filósofo aqui nos lembra desse rosto que consegue traduzir e provocar afecções de sensações diferentes sem perder nenhuma das duas ou mais que possa apresentar.

Contradizendo a respeito do primeiro plano, que é um deslocamento da visão da totalidade, Deleuze toma emprestado as palavras de Bela Balázs

Como Balázs já mostrava com muita precisão, em primeiro plano não arranca de modo nenhum seu objeto de um conjunto do qual faria parte, do qual seria uma parte, mas sim o que é completamente diferente o abstrato de todas as coordenadas espaços temporais, estiver, ao estado de entidade. (DELEUZE, 1983. p. NC)

Quem vê um rosto em primeiro plano em Na Terra do Sol tem a certeza do que rodeia esse corpo do qual esse rosto faz parte, do universo social, do universo da luta, seja ela a própria guerra, seja contra sede, de qualquer tipo ou necessidade, seja contra todas as intempéries que aquela situação promove.

Na Terra do Sol é um filme em curta-metragem, mas nem por isso deixa de permitir ao analista explorar uma riqueza de usos e recursos cinematográficos. Fizemos uso somente do primeiro plano e profundidade de campo, mas outros elementos como o som, a cor são muito presentes e fundamentais para a diegese, entretanto, para fins de exploração concentramos somente naquele recurso, mas os demais poderão ser inseridos em estudos posteriores.

Deleuze traz a relação dos seis tipos de imagens sensíveis aparentes, a imagem-percepção, a imagem-afecção, a imagem-pulsão (intermediária entre a infecção e ação), a imagem-ação, a imagem-reflexão entre (intermediária entre a ação e a relação), a imagem-relação os quais relaciona a rostos como, por exemplo, rosto intensivo, rosto reflexão, rosto estriado, rosto vaporoso, entre outros os quais, dentre estes e outros não citados, podendo ser vistos no nosso filme aqui em análise. (DELEUZE, 2005. p. 46 cap. 2)

Após rever, somente para a confecção desse texto, pela 3ª vez, elencamos os primeiros planos e alguns primeiríssimos planos, quando a câmera destaca uma parte do rosto, de um objeto, enfim, fixa o nosso olhar em um detalhe. A ordem de exposição dos frames será por personagem, a fim de que tenhamos uma linha evolutiva deles. Vamos nomeá-los, os humanos, como sertanejo1, o homem de chapéu de couro; sertanejo 2, o sertanejo com o olho ferido; sertanejo idoso e sertanejo menino; soldado; o mandacaru, a cabaça, os escombros, a indígena, a santa e a rezadeira.


terça-feira, 5 de dezembro de 2023

 

Propostas para o currículo do ensino médio e criação de programas de pós-graduação vinculados à Secretaria de Educação do Estado.

 

Proposta 1 - Em face do declínio da busca pelo Magistério como profissão, a SEC resgataria o Ensino Médio Normal nos moldes que a própria SEC-BA, reformulou este curso profissionalizante em 2010, com uma equipe da qual participei sob o comando da professora Alba Guedes-UNEB-SSA;

 

Proposta 2 - Estabelecer o ENEM  como avaliação obrigatória para a aquisição do certificado de Ensino Médio, mantendo-se o cotidiano escolar normal, entretanto com as avaliações conceituais, somente; como o Exame ocorre antes do encerramento das aulas, os dias após a realização ficariam para as de recuperação final, uma vez que o gabarito é divulgado antes e o resultado escolar independeria do usado para o SISU; a avaliação SAEB também passaria a ser obrigatória.

 

Proposta 3 - Criação de programas de pós-graduação para professores e professoras da rede, vinculados às IPES - Instituições Públicas de Ensino Superior, não somente para a aquisição de titulação, mas, principalmente para a manutenção majoritariamente de laboratório científico de práticas educativas, entre outras temáticas;

 

Proposta 4 – Ensino por temas, baseado nas Diretrizes Curriculares Nacionais. O ensino por temas dinamiza o currículo, o conteúdo e o ensino, o cotidiano e a avaliação que será processual e conceitual. Dá-se assim: no período de preparatório do ano letivo, os professores e as professoras, individualmente ou em duplas, trios, quartetos ou qualquer outra formação, produzirão minicursos, com carga horária livre de quantidade, para ministrarem “no lugar” das aulas. O total de todos os minicursos deve ser o equivalente ao total de horas que a série deve oferecer, conforme dispositivo legal do Ministério da Educação.

 

Proposta 5 – Criação da semana temática de cinema. Nela, na semana, somente serão exibidos filmes temáticos para a semana inteira, sendo um para cada dia da semana. O procedimento é o seguinte: todas as salas exibirão o mesmo filme e devem iniciar no mesmo momento com um intervalo, somente, para todas as turmas. Os filmes devem ser objeto de debate na classe, mas sem a obrigatoriedade de serem inseridos como objeto de estudo pelo professor, pois a ideia inicial é que a exibição do filme seja um momento de lazer. Após uma ou duas semanas de prática, a Unidade Escolar poderá rever o uso do filme para outros fins como o avaliativo, dentro dos moldes processuais e conceituais.

 

Prof Marcos José de Souza

Fátima-Bahia

 

domingo, 15 de outubro de 2023

 

 

Um olhar revisitado sobre Rashomon

Após profícuo debate sobre Rashomon, 1950, Akira Kurosawa, sob a coordenação do prof. Dr. Hamílcar Silveira Dantas Junior, no âmbito da disciplina Cinema e Narrativas do Contemporâneo, junto ao Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Cinema – PPGCINE, vinculado à Universidade Federal de Sergipe e nele, debate, observarmos diversos momentos e aspectos do filme, decidi fazer um texto do tipo ensaio com a predominância de frames desse longa japonês, inicialmente considerado por este povo como um filme ocidentalizado.

O filme tem como mote a busca da verdade através do testemunho de 05(cinco) pessoas/personagens sobre um estupro e um assassinato. Há uma espécie de tribunal do júri e inclusive o testemunho do falecido dá-se através de um médium. O filme traz a fábula como narrativa, isto é, algo que se conta em busca de ensinar algo e prende a nossa atenção como a verdade existe e ao mesmo tempo não existe.

Faço votos que assistam a esse filme, em preto e branco, com recursos simples, mas que com paciência teremos ótimos desempenhos cênicos dos artistas, inclusive com a simplicidade do cenário, isto é, minimalista, o que conferem ao diretor, o seu brilhantismo.

Boas sessões!!!!

Os frames, com seus respectivos temas do momento, não estão na ordem de aparição do filme, mas obedecem a uma possível valorização temática do autor:

1.       Camponês e religioso conversam sobre ética e a guarda de um bebê representantes do eterno recomeço da vida e fazem parte das últimas cenas do filme

 

 
        







        

             

 


 

 


 

 

2.       Kurosawa um cineasta do ocidental do oriente

O frame seguinte passou despercebido do debate e também pelo meu campo de visão, visto somente agora com a terceira vez que vi o filme. Para mim revela a cristianização de Kurosawa, indício de sua ocidentalização, como seus críticos japoneses julgavam. Trata-se da imagem de uma cruz provocada pela luz do lugar onde passa a parte principal da narrativa fílmica, o relato sobre o estupro da moça e do assassinato do marido dela. A mão que se vê é do fotógrafo autor do texto e por isso peço desculpas.


 


3.       O tempo transcorrido entre o episódio do estupro e do assassinato



                 





 

4.       A vida pregressa de Tajomaru e as histórias sobre a vida dele contado por outros



 




 

5.       O papel social feminino pela voz de uma mulher

                      


 

6.       Momento em que o lenhador, que viu os acontecimentos, conversa com o religioso sob a intermediação do camponês, o cético



 


 

7.       Alguns frames que revelam esteticamente a fotografia do filme entre outros destaques:

 Nesse momento temos as pernas de Tajomaru, de costas, a mulher, ao chão e entre ambos. De frente, o marido da mulher. Não consegui compreender a simbologia dessa imagem, além do óbvio que é a luta, a disputa pela mulher, apesar do que sabemos o que pensam e falam ambos sobre ela..

                           

7.1. O marido, pela fala da mulher, olha-a com desdém após ele presenciar a cena de estupro

                          

7.2. O camponês, homem que chega ao templo e duvida de tudo e de todos

                            


                           

 

7.3.  Início do depoimento da esposa, quando ouvimos Bolero, de Maurice Ravel. Não sabemos qual a razão do uso dessa música exclusivamente para o depoimento dela.

             


7.4. O médium “depõe” trazendo a versão dos fatos; nos 4 (quatro) frames iniciais temos a pessoa que recebe o espírito e fala e nos seguintes temos a reprodução da voz do próprio falecido.


 




 

             

A mesma fala foi capturada em dois frames:

 

 

 O falecido continua falando. Estaria "sentindo" a presença de alguém?





 

7.5. O assassinato do samurai pelo fora da lei, Tajomaru - atentem para a posição da espada, o que justifica a sequência que fiz.


 

 









Esse singelo trabalho é dedicado ao meu querido amigo e meu professor, Hamílcar Silveira Dantas Junior, um operário do serviço público, vinculado ao Programa de Pós-Graduação Interdiscplinar em Cinema, o PPGCINE, da Universidade Federal de Sergipe, a nossa uefesse, ou UFS!

Marcos José de Souza, 12 de outubro de 2023, às 21:50h, concluído no dia dedicado ao professor e com a honrosa ajuda de Ariel Carvalho de Souza, nosso rebento caçula, às 10:16h.





















































segunda-feira, 25 de setembro de 2023









 Resenha

Sertões Contemporâneos, Rupturas e Continuidades no Semiárido, da professora Gislene Moreira, jornalista de formação e com uma caminhada bastante sólida no campo da Comunicação Social e comprovadas com informações de pesquisas feitas e apresentadas aqui neste livro, publicado pela Edufba e Eduneb, no ano de 2018, ambas, editoras universitárias da UFBA e da UNEB, respectivamente.  

O livro é um trabalho feito após o seu doutoramento pela FLACSO, a Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales, México. Nele faz uma análise desde a cultura no nordeste brasileiro, especificamente a partir da etimologia, não no sentido puramente linguístico, mas cultural e político das palavras Sertão, semiárido e do processo de mutação política que esses dois termos foram utilizados, durante a ocupação do território brasileiro aos dias atuais que o livro é fruto já no século 21. Não apresenta data de elaboração, somente de publicação que é de 2018. Mas, provavelmente pelas informações colocadas em todo o texto, nós vamos tendo informações aqui e ali de que ele foi feito já nesta segunda década do século XXI.

O índice traz quatro capítulos com títulos bastante sugestivos, principalmente para um leitor pesquisador professor nascido e residente também neste mesmo lugar em que a pesquisadora faz suas exposições e análises, a saber, o sertão culturalmente falando e politicamente também e o semiárido geograficamente falando

Partindo da tese de que a expansão da pecuária foi o mote para a dominação dos Sertões do Brasil aqui entendido como o interior deslocando-se do litoral, quer dizer saindo do litoral em busca do que se diz em outras plagas, do paraíso perdido do El dorado, Gislene Moreira traz a tese de que o boi é que movimentava a economia naqueles tempos. Por exemplo o capítulo 1 intitulado A Farra do boi: identidade e tradição dos velhos Sertões, o 2, A Morte do boi: modernidade e transições do Sertão semiárido. O capítulo 3 A Partilha do boi: inovações da era Lula no semiárido; por fim o capítulo 4, O Boi neon e o boi roubado: identidades e produção cultural dos Sertões do século XXI.

A tese central do livro de Gislene como o próprio título sugere é de transformação aqui eu vou utilizar, o termo Sertão como aquele lugar distante do litoral que está presente em toda região Nordeste e parte da Sudeste, com o Norte de Minas Gerai incluído enfim, aquela região que ficou conhecida nacional e internacionalmente como um lugar que não chove, que não há abundância e etc etc. Esta afirmativa que faz vai exatamente na linha do que Gislene disserta, que o sertão é aquele lugar que, desde a nossa colonização aos dias atuais, sofreu processos de mudanças drásticas e até mesmo radicais, para usar linguagens muito corriqueiras cotidianas.

Apresentei esse livro, de modo bastante rápido, no meu minicurso que ministrei recentemente em evento de Ciências da Linguagem, pela Universidade Federal da Bahia, o Na Trilha d’Os Sertões, estudo do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha. Na oportunidade, a partir da ótica de Euclides sobre o sertão, afirmei que o próprio autor mudou de ponto de vista político convergindo com a tese de Gislene, mais de 100 anos depois, de que o sertão nordestino é mutante.

Entretanto a nossa interlocutora não entende, através de suas teses, que essa mutação seja “natural”, muito pelo contrário, é política, é racionalizada, pensada. A autora faz uso de alguns teóricos e conceitos dos quais cito Barbero e a tese da hibridização cultural.

É um livro necessário não somente para quem quer pensar o Nordeste brasileiro, mas a própria condução política desse lugar que ainda viceja por ser Nação. E mesmo usando de teorias, a leitura é acessível, prazerosa e, o que é mais importante, esclarecedora, sem radicalismos, mas com objetividade e firmeza.

Mais uma vez afirmo, é uma leitura necessária.

PS. Perdoem a falta de organização das faltas.

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

 

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE LETRAS

IX ECLAE – ENCONTRO DAS CIÊNCIAS DA LINGUAGEM APLICADAS AO ENSINO

TEMA – PRÁTICAS EDUCATIVAS EM LÍNGUAS E LITERATURAS

MINICURSO – Na Trilha d’Os Sertões, estudo do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha

MINISTRANTE – PROF. MARCOS JOSÉ DE SOUZA, COLÉGIO ESTUDUAL PAULO FREIRE, FÁTIMA-BAHIA

SALVADOR, BAHIA, 12 DE SETEMBRO DE 2023

 

 

Na Trilha d’Os Sertões, estudo do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha

Marcos José de Souza

 

 

Leitura de trechos do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha com abordagens dos temas relacionados ao fato histórico ocorrido que o livro revela.

Observaremos os aspectos históricos que circundam a obra – contexto político e social brasileiro no final do século XIX, bem como a formação política e acadêmica de Euclides da Cunha, o autor; a poética de elaboração: a) a convocação para cobrir a guerra; b) as entrevistas e pesquisas realizadas, no campo de batalha e, principalmente c) a estrutura – divisão em partes e a ordem delas e d) a linguagem literária em um obra não literária, no sentido estrito do termo, em face das construções  frasais, do uso recorrente de metáforas e, por isso, a linguagem poética em vários momento de Os Sertões. Uso de trechos de filmes que abordam a temática.

 

Programação:

1ª hora e meia – 1º dia

·          Apresentação do tema do minicurso e do ministrante ; em seguida, leitura de um dia do seu diário, o Diário de uma expedição – 15 minutos;

·         Biografia de Euclides da Cunha e o Brasil no final do século XIX – 15 minutos; distribuir um texto de um dos trechos que destaquei no livro, denominado como arquivo “primeira página”;

·         A poética de elaboração do livro e exposição da sua estrutura– 15minutos;

·         Início da leitura de trechos do livro e exposição de trecho do filme Guerra de Canudos 05 minutos- 45 minutos (incluindo o filme);

·         Organizar uma atividade prática – com um dos textos distribuídos, pedir que leiam e acompanhe a nossa leitura; solicitar que façam um poema, ou tentem fazer, de algum dos trechos distribuídos. Atividade extra em função do aumento tempo de exposição

 

2ª hora e meia – 2º dia

·         Exposição de trecho do filme Paixão e Guerra no sertão de Canudos, de Antônio Olavo – 05 minutos

·         Continuação da leitura de trechos do livro – 40 minutos

·         Exposição do filme Na Terra do Sol, de Lula Oliveira – 15 minutos

·         Conclusão da leitura de trechos do livro – 30 minutos

·         Leitura compartilhada com a entonação necessária a um livro literário. Atividade extra em função do aumento tempo de exposição.

Observação – a minutagem pode sofrer alteração em face das possíveis intervenções dos cursistas.

 

RESUMO ENVIADO AO ECLAE

Leitura de trechos do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha com abordagens dos temas relacionados ao fato histórico ocorrido que o livro revela, a saber, a Guerra de Canudos; outra FONTE será usada, o filme, trechos de 03(três) deles, que abordam de modos diferentes o mesmo episódio tratado no livro.

 

DETALHES DO ROTEIRO

 

1.       Justificar a leitura de trecho do Diario de uma expedição em face de ser uma fonte para Os Sertões – destacar as figuras de estilo já usadas no diário e que serão ampliadas no livro; fazer um mapa da região – contemporâneo à guerra e atual com as nossas cidades citadas no livro e do entorno; elaborar uma página com capas do livro;

2.       Ao iniciar a exposição de detalhes do livro lembrar de que as partes são distintas, mas o conjunto delas está nas três, isto é, mesmo na parte destinada à Terra, informes das pessoas e do conflito já aparecem, destacar “Higrômetros singulares”

2.1. As metáforas; as sequencias verbais; os momentos poéticos.

2.2. Expor três páginas, as iniciais de cada parte, somente para leitura, para que as/os cursistas sintam a construção do texto, em si, sem a nossa intervenção.

 

 

 Em “O que ocorrer”.

1.       Qual o lugar de Os Sertões nesse GT? Por ser cânone nos livros didáticos, mesmo que sem o devido olhar, a leitura deve ser feita por pequenas partes, em face do seu volume;  e o lugar histórico literário é o de Modernista – rechaçamos a tese do Pré-Modernismo.

 

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE LETRAS

IX ECLAE – ENCONTRO DAS CIÊNCIAS DA LINGUAGEM APLICADAS AO ENSINO

TEMA – PRÁTICAS EDUCATIVAS EM LÍNGUAS E LITERATURAS

MINICURSO – Na Trilha d’Os Sertões, estudo do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha

MINISTRANTE – PROF. MARCOS JOSÉ DE SOUZA, COLÉGIO ESTUDUAL PAULO FREIRE, FÁTIMA-BAHIA

SALVADOR, BAHIA, 13 DE SETEMBRO DE 2023

 

SEGUNDO DIA

                1º momento

                Assistir à abertura de Guerra de Canudos, de Sergio Rezende; 8 min

 

distribuir um texto de um dos trechos que destaquei no livro, denominado como arquivo “primeira página”; 2 min.

 

reflexão sobre os textos: trecho do filme e primeira página do livro; 15 min.

 

outras leituras do livro, do episódio e alguns estudos sobre a obra Os Sertões. 10 min.

 

                2º momento

 

                Continuação da leitura de trechos do livro, O HOMEM e A LUTA 40 min

 

                3º momento

 

Exposição do filme Na Terra do Sol, de Lula Oliveira – 15 min

Conclusão da leitura de trechos do livro – ? minutos

Debate, Reflexões sobre o minicurso e solicitação de avaliação a ser enviada para o e-mail do professor: professormarcos1968@hotmail.com ? minutos


ALGUNS TRECHOS DESTACADOS NO MINICURSO


A TERRA

Nota I, p. 28 um detalhe sobre a paisagem: o lugar dos verbos, adjetivos e advérbios na construção textual

 

 "Para o norte, porém, inclinam-se mais fortemente as camadas. Sucedem-se cômoros, despidos, de pendores rés resvalantes, descaindo em quebradas onde enxurram torrentes periódicas, solapando-os; e pelos seus topos divisam-se, alinhadas em fileiras, destacadas em lâminas, as mesmas infiltrações quartzosas, expostas pela decomposição dos xistos em que se embebem "


O HOMEM


Nota VII páginas 115 e 116, o estouro da boiada nos verbos e em poesia

 

"De súbito, porém, ondula um frêmito sulcando, num estremeção repentino, aqueles centenários de dorsos luzidios. Há uma parada instantânea. Entrebatem-se, enredam-se, traçam-se e alteiam-se fisgando vivamente o espaço, e inclinam-se, e embaralham-se milhares de chifres. Vibra uma trepidação no solo; e a boiada estoura... (em itálico no original)

A boiada arranca."

 

O estouro da boiada

 

"De súbito, porém,

ondula um frêmito

 

sulcando,

num estremeção repentino,

aqueles centenários de dorsos luzidios.

 

Há uma parada instantânea.

Entrebatem-se,

enredam-se,

traçam-se

e alteiam-se fisgando vivamente o espaço,

 

e inclinam-se,

e embaralham-se milhares de chifres.

 

Vibra uma trepidação no solo;

e a boiada estoura...

 

A boiada arranca."

 

          A LUTA


Nota XLIII, p. 492: Mais um quadro dantesco, muito conhecido em livros, revistas que tratam do assunto, a Guerra de Canudos. Neste momento temos os rostos e corpos dos “sobreviventes” que ponho aspas tendo em vista que se tratava de mortos vivos. O qual também transformamos em poema.

Copiar a imagem para exibi-la.

 

“Nem um rosto viril, nem um braço capaz de suspender uma arma, nem um peito resfolegante de campeador domado: mulheres, sem número de mulheres, velhas espectrais, moças envelhecidas, velhas e moças indistintas na mesma fealdade, escaveiradas e sujas, filhos escanchados nos quadris desnalgados, filhos encarapitados às costas, filhos suspensos aos peitos murchos, filhos afastados pelos braços, passando; crianças, sem número de crianças; velhos, sem número de velhos; raros homens, enfermos opilados, faces túmídas e mortas, de cera, bustos dobrados, andar cambaleante.”

 

Beatinho e os sobreviventes

Nem um rosto viril,

nem um braço capaz de suspender uma arma,

nem um peito resfolegante de campeador domado:

mulheres,

sem número de mulheres,

velhas espectrais,

moças envelhecidas,

velhas e moças indistintas na mesma fealdade,

escaveiradas e sujas,

 

filhos escanchados nos quadris desnalgados,

filhos encarapitados às costas,

filhos suspensos aos peitos murchos,

filhos afastados pelos braços, passando;

 

crianças,

sem número de crianças;

 

velhos,

sem número de velhos;

 

raros homens,

enfermos opilados,

faces túmídas e mortas, de cera,

bustos dobrados,

 

andar cambaleante.”

 

Ps. O título é nosso



Publicação não revisada pelo autor.